Desequilíbrio da microbiota e ganho de peso podem estar diretamente relacionados

Encarada como epidemia pela OMS, a obesidade está associada a alterações na flora bacteriana intestinal


A obesidade é uma epidemia que afeta 650 milhões ao redor do mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2025 cerca de 2,3 bilhões de adultos estarão acima do peso – isto é, com sobrepeso ou obesidade. Esses dados estão ligados ao desequilíbrio que dietas com alto teor de gordura e açúcar, predominantes no mundo ocidental, causam em nossa flora bacteriana intestinal, a microbiota.

A obesidade é acompanhada por alterações na composição e nas funções da comunidade bacteriana que tem, entre outros papeis, regular as principais funções do nosso organismo - tanto no uso quanto no armazenamento da energia oriunda da alimentação. Assim, a relação entre microbiota saudável e a perda de peso é direta: ao restaurar sua composição ideal, é possível facilitar a redução dos quilos extras e prevenir a obesidade.

Microrganismos vivos que, entre outros benefícios, ajudam a recuperar o equilíbrio da microbiota, os probióticos são comumente associados à perda de peso. De fato, eles auxiliam na absorção de nutrientes e produzem substâncias como os ácidos graxos, que previnem o ganho de peso. Trata-se, no entanto, de uma relação complexa.

Com efeitos que variam segundo o peso corporal, a idade e as características de cada pessoa, além da cepa probiótica em questão, os probióticos não devem ser usados indiscriminadamente como “remédios” para perder peso. Antes de utilizá-los em qualquer tratamento, é preciso entender como o equilíbrio (ou desequilíbrio) da microbiota intestinal age sobre o peso corporal humano.


Como a microbiota intestinal afeta o peso?

A microbiota intestinal funciona como um “fator ambiental” que, quando submetida a determinadas condições, como dieta calórica, rotina pouco saudável e estresse, aumenta a captação de energia do corpo humano e facilita o surgimento da obesidade. Isso ocorre, em grande parte, devido a um desequilíbrio, denominado disbiose, nas proporções das diferentes espécies que compõem a microbiota.

Estudos mostram, por exemplo, que indivíduos obesos possuem maior concentração de Firmicutes e redução de Bacteroidetes em comparação a indivíduos magros. Considerando que cada gênero e espécie cumpre uma função particular na absorção de nutrientes – muitas vezes digerindo o que nosso corpo não consegue digerir – e na produção de substâncias essenciais para o organismo, a disbiose afeta todo o sistema de consumo e gasto de calorias.

Pesquisas com animais levantaram inclusive a hipótese de que, ao receber um transplante de microbiota, o receptor pode adquirir as características corporais do doador. Isso se deve ao grau de eficiência que cada microbiota possui  em extrair calorias dos alimentos, o que reforça a ideia de que a causa da obesidade carrega um componente microbiano. Assim, a disbiose interfere no controle do apetite, aumenta a inflamação do organismo e dificulta a perda de peso.

Além disso, a redução da diversidade bacteriana pode ser causada até mesmo pelo uso de antibióticos, que não distinguem bactérias boas das más e eliminam microrganismos benéficos à saúde. Como tais remédios têm efeito duradouro sobre a composição da microbiota, pessoas que tomaram antibióticos no início da vida encaram maior risco de desenvolver obesidade quando adultos. 


Microbiota e obesidade

Com grande influência sobre as funções metabólicas, neuroendócrinas e imunológicas do corpo humano, a comunidade bacteriana intestinal pode ser um fator determinante para a obesidade quando sofre alterações. Conhecer a composição particular da microbiota do indivíduo é, portanto, um primeiro passo para evitar a obesidade e perder peso.

Estudos defendem que as informações sobre a microbiota de cada pessoa podem ser utilizadas para criar dietas personalizadas, com refeições projetadas para dar a melhor resposta possível ao corpo do indivíduo. Outra possibilidade que a ciência levanta é o transplante microbiano fecal de indivíduos magros para obesos – ainda que essa manipulação da flora intestinal peça mais estudos, as perspectivas são promissoras.

Como mencionado anteriormente, em indivíduos obesos algumas bactérias parecem se tornar abundantes – em especial Firmicutes como Eubacterium dolichum, Halomonas e Sphingomonas – enquanto outras têm a população diminuída – principalmente Bacteroidetes e Bifidobacterium. Esta redução na diversidade da microbiota é peça-chave no ganho de peso e no desenvolvimento da obesidade.

A conexão entre o equilíbrio da microbiota e a perda de peso é íntima, e pede que uma série de fatores sejam levados em consideração quando se trata de combater a obesidade. Como cada pessoa carrega uma composição intestinal única, não existe abordagem universal: é preciso obter uma imagem clara da microbiota do paciente e desenvolver, de forma conjunta, hábitos saudáveis que ajudem a equilibrá-la.


Uso de probióticos e o combate ao ganho de peso

O processo de emagrecer e manter o peso ideal exige a adoção de diversos hábitos saudáveis que contribuem para a restauração da microbiota: ter um sono de qualidade, fazer atividades físicas na medida certa, comer bem, evitar o estresse, etc.

Os suplementos probióticos e prebióticos são grandes aliados na manutenção e na perda de peso corporal: eles ajudam a reduzir a gordura, regulam as populações bacterianas no intestino, reduzem a inflamação e contribuem para o controle do apetite. Outros benefícios são o reforço na imunidade e na integridade da parede intestinal.

Cepas específicas de Lactobacilos, Streptococos, Bacillus e Bifidobactérias são algumas das mais utilizadas em probióticos. A administração de diferentes cepas de Lactobacilos, em especial estirpes específicas do Lactobacillus gasseri, pode reduzir a quantidade de peso adquirido em uma dieta rica em gordura. A levedura probiótica Saccharomyces boulardii também mostra ser eficiente ao reduzir a quantidade de Firmicutes e aumentar a de Bacteroidetes.

Não obstante, os probióticos não operam milagres de emagrecimento e só devem ser utilizados de forma controlada, com o devido acompanhamento. É preciso selecionar os microorganismos corretos e administrá-los na quantidade adequada, de acordo com o estágio do tratamento. Só assim eles podem restaurar o equilíbrio da microbiota sem provocar efeitos nulos ou adversos na saúde do paciente.

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