Novembro azul: como a microbiota intestinal influencia o tratamento do câncer de próstata

Reequilibrar a comunidade bacteriana com uso de probióticos pode ajudar a recuperar pacientes da doença

Referência ao mês mundial de conscientização sobre a saúde do homem e o combate ao câncer de próstata, a campanha Novembro Azul tem significado especial para o Brasil. Segundo tipo de câncer mais comum entre os brasileiros, o câncer de próstata tira cerca de 15 mil vidas ao ano no país. No mundo, são 42 mortes diárias e 3 milhões de homens vivendo com a doença.

A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino localizada abaixo da bexiga e que tem como principal função a produção de esperma. O câncer nessa região acomete principalmente homens acima de 65 anos. O mais recomendável, porém, é que a partir dos 45 anos todo homem faça testes frequentes para detectar a doença.

Traiçoeiro, o câncer de próstata não costuma apresentar sintomas nas fases iniciais – e quando os sinais aparecem, 95% dos tumores estão em um estágio que dificulta a recuperação. Daí a relevância da conscientização promovida pelo Novembro Azul: para pacientes portadores da doença, somente o diagnóstico precoce representa uma garantia de cura.

Calcula-se que haverá 65.840 novos casos de câncer de próstata por ano no Brasil até 2022 – quase 63 novos casos a cada 100 mil homens. São número alarmantes que reforçam a relevância de uma descoberta recente: há uma clara relação entre o desequilíbrio da microbiota intestinal e o câncer de próstata, indicando que o uso de probióticos tem papel importante no tratamento e na prevenção da doença.


Relação entre a microbiota e a eficácia do tratamento de câncer

Um estudo publicado em 2017 nos Estados Unidos concluiu: existem diferenças significativas na microbiota intestinal de pacientes com câncer de próstata em relação à microbiota de homens saudáveis. Uma conclusão corroborada por pesquisas que mostram como o desequilíbrio da microbiota exerce grande influência no risco de desenvolvimento de 15% a 20% de todos os tipos de câncer.

Segundo a cientista e professora de patologia norte-americana Karen Sfanos, a própria eficácia do tratamento ao câncer de próstata também está diretamente ligada à microbiota. Isso porque as bactérias intestinais têm a capacidade de modificar quimicamente os diversos medicamentos que são utilizadas no tratamento – e vice-versa.

“Os medicamentos que combatem o câncer também podem alterar a composição das espécies bacterianas que vivem no intestino, e isso pode afetar o funcionamento do tratamento”, explica. Assim, a composição da microbiota acaba modulando os efeitos antitumorais de substâncias que combatem o câncer de próstata, inclusive na imunoterapia.

A resposta do paciente à quimioterapia é, portanto, modulada por sua própria microbiota intestinal. Ela influencia na eficácia dos medicamentos, na revogação dos efeitos anticâncer e na mediação da toxicidade. O inverso também ocorre: a quimioterapia altera o microbioma, reduz a resistência da parede intestinal e pode levar à diarréia e à colite.

Outras funções sistêmicas do organismo ajudam a explicar a conexão entre a comunidade bacteriana intestinal e o câncer de próstata. Pacientes da doença apresentam elevados níveis do hormônio estrogênio – um hormônio que normalmente é metabolizado pela microbiota e mantido em uma taxa regular. Se a metabolização não ocorre como de costume, a próstata sofre mutações que promovem o câncer.

Alguns microrganismos estão mais associados ao risco de desenvolvimento do câncer de próstata – Bacteroides, Streptococcus, B. Massiliensis, M. Genitalium, F. prausnitzii e E. rectalie entre eles. É aí que se observa a relação entre probióticos e câncer de próstata: ao manter equilibradas as diferentes espécies que compõem a microbiota, os probióticos exercem papel tanto na prevenção quanto na eficácia do tratamento.


Confira os estudos sobre o assunto:

• The human microbiome and its link in prostate cancer risk and pathogenesis

• The Role of Gut Microbiome in the Pathogenesis of Prostate Cancer: A Prospective, Pilot Study

• The inflammatory microenvironment and microbiome in prostate cancer development


Probióticos no tratamento de câncer de próstata

Probióticos e câncer de próstata estão vinculados pelo auxílio que os probióticos oferecem no tratamento e no combate à doença. O Lactobacillus rhamnosus GG (LGG), por exemplo, é largamente utilizado como complemento no tratamento do câncer colorretal. Além de anti inflamatório, o LGG é capaz de fazer regredir o próprio tumor.

Ainda que uma investigação mais profunda seja necessária, existe a expectativa de que o LGG seja eficaz também no tratamento do câncer de próstata. Além disso, a administração de probióticos após o tratamento de diferentes tipos de câncer mostrou ser capaz de aliviar o estresse gastrointestinal e de repovoar a própria microbiota danificada.

Outra associação entre probióticos e câncer de próstata que vem sendo analisada por pesquisadores é a possibilidade de que o uso de probióticos ajude na produção natural do folato – ou ácido fólico, um importante sintetizador do DNA. Quando é inserido como suplemento na dieta de pessoas com deficiência de folato, o excesso da substância parece estar associado justamente ao surgimento do câncer de próstata.

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